Recortes de papelão, parafusos e porcas. Lanternas, lentes de DVD e telefones celulares. Junto a isso, duas ferramentas poderosas: a criatividade e a ciência. Esta é a matéria-prima dos microscópios de baixo custo construídos pelos participantes do Inspira Ciência, programa de formação de professores da Educação Básica realizado pelo Museu do Amanhã e o British Council com o patrocínio da IBM.
A atividade ocorreu no último sábado (25/5) no Museu do Amanhã para estimular experiências vibrantes de ensino e aprendizagem. E também para democratizar a ciência, já que apenas 11,5% das escolas de ensino fundamental e 45,4% das escolas do ensino médio dispõem de laboratórios de ciências, de acordo com os dados do Censo Escolar divulgado pelo INEP em 2018.
A oficina foi promovida pelo diretor Científico do Conector Ciência Filipe Oliveira, que nos últimos meses viajou pela Amazônia para conhecer a biodiversidade do bioma e os saberes das populações tradicionais. Os professores puseram a mão na massa com ele para construir seus próprios microscópios, seguindo as diferentes etapas dos desenhos técnicos elaborados por Filipe para descomplicar a montagem do instrumento. Em seguida, usaram a câmera dos seus telefones celulares para ver as lâminas com diferentes espécies da flora amazônica.
“Eu achei incrível. Não pensei que fosse possível construir um microscópio de forma tão simples, rápida e barata”, conta a professora Aline Soares Magalhães, participante do Inspira Ciência. “Já levei o meu para a escola. Agora, os outros professores e eu queremos fazer com que cada estudante tenha o seu próprio microscópio”, diz Aline, que leciona no Colégio Marques Rodrigues, em Sulacap. “Nossa escola fica próximo ao Parque Estadual da Pedra Branca, então nós vamos estimulá-los a conhecer a diversidade da flora da Mata Atlântica presente na região nos mínimos detalhes”, explica.
A ideia vai ao encontro do objetivo da oficina. “O que está em questão não é somente a descoberta de estruturas invisíveis aos nossos olhos, e sim tornar a ciência e as tecnologias educacionais mais acessíveis para as escolas brasileiras, valorizando-as como espaços de experimentação e inovação”, explica Filipe Oliveira, do Conector Ciência. “Descontado o preço do telefone, o custo dos materiais do microscópio fica entre R$ 10 e 15”, diz.
Outra participante do Inspira Ciência, a professora Nadjara Corrêa afirma que os microscópios permitirão que os estudantes aprendam ciência da melhor forma, que é na prática. “Construímos instrumentos científicos e pedagógicos caros com materiais simples que seriam descartados”, diz Nadjara, professora do Centro Educacional Estações do Ano, em Santa Cruz. “Assim, nós conseguimos criar experiências em sala de aula, que vão desde a construção desses instrumentos até a utilização deles em pesquisas científicas”. “Com esses microscópios, as aulas certamente ficam mais investigativas, mais provocativas”, explica.
A professora também planeja usar os microscópios em breve. “Eu já disse às minhas turmas que vamos usá-los nas aulas sobre histologia para que vejam a estrutura e a composição de tecidos com seus próprios olhos, e não apenas pelas imagens dos livros”, conta. “Mas é claro que eles também vão fazer os seus próprios microscópios. E eu vou ajudá-los. Quero despertar neles a vontade de ser cientista”, conclui.