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Faça ciência como uma garota!

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Imagine uma menina que adora robôs e sonha construir os seus no futuro. O que a impede de tornar esse sonho realidade? Para Ana Carolina da Hora, integrante da equipe do Olabi Makerspace, a resposta passa pelo apoio que ela receberá dentro e fora da escola para seguir uma carreira nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia ou matemática. Foi o que ela contou aos participantes do Inspira Ciência durante o quarto encontro (29/6) do programa de formação de professores da Educação Básica realizado pelo Museu do Amanhã e o British Council com o patrocínio da IBM.

Ana Carolina é estudante de Ciência da Computação na PUC Rio. Seguindo o avanço exponencial da tecnologia nos últimos vinte anos, a oferta de cursos nessa área aumentou mais de 500% no Brasil. Mas o número de mulheres diminuiu de 34,8% para 15,5%, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) também divulgados na revista Pesquisa Fapesp. Esse só um exemplo de um problema maior sobre gênero e ciência no país e no mundo.

Entre exercícios de programação e conversas sobre algoritmos e machine learning, Ana, que lidera o Computação sem caô, um projeto de democratização de ensino do pensamento computacional, abordou o tema das meninas na ciência. “Existem muitos obstáculos para as mulheres nas universidades e no mercado de trabalho, como as disparidades salariais, carreiras nas quais a presença feminina é desencorajada ou ainda as dificuldades criadas para elas ocuparem cargos de liderança”, afirma. “Mas esses obstáculos já surgem nas escolas. As meninas têm poucas, às vezes nenhuma referência de cientistas mulheres compartilhadas por seus professores. Desta forma, elas crescem sem ter alguma pesquisadora em quem se inspirar”, explica.

Para Ana Carolina os estereótipos de gênero também vão se formando na rotina de sala de aula. “Nos trabalhos em grupo sempre se diz que as meninas escrevem os textos ou fazem os cartazes porque têm a letra bonita ou passam os rascunhos a limpo por serem organizadas, mas poucas vezes são reconhecidas pelas ideias inteligentes que apresentam ou pelo empenho para tirarem boas notas”. Assim, continua ela, “as meninas podem ir se afastando pouco a pouco dos papéis mais propositivos ou de liderança e também vão escolhendo carreiras fora das áreas de ciência e tecnologia”.

“Por isso, os professores devem pensar nos pequenos detalhes sobre a divisão das tarefas, citar mais mulheres cientistas e os seus grandes feitos, bem como criar oportunidades para que as meninas liderem projetos, conduzam grupos, enfim, para que elas despertem todo o seu potencial e reconheçam que a ciência também é para elas”, conclui.

A reação dos professores foi imediata. “Eu fiquei contagiada pela fala da Ana”, diz Nilce Bertolino, participante do Inspira Ciência. Ela, que é coordenadora pedagógica da Escola Municipal Santo Agostinho, em Xerém, Duque de Caxias, já está criando uma lista de mulheres inspiradoras para compartilhar com suas estudantes. Mas, seguiu um caminho diferente. “Eu decidi começar listando professoras da rede pública que têm projetos educacionais inovadores. A meu ver, essa é uma forma de inspirar vocações nas meninas e, ao mesmo tempo, valorizar o trabalho excepcional das docentes”, explica. “É importante fortalecer o vínculo das estudantes com as professoras, e de todas elas com as escolas, estimulando a aproximação entre as diferentes gerações de meninas e mulheres e valorizando as escolas como importantes espaços do saber”, afirma.

“Eu vi muitas das minhas alunas na Ana”, disse a professora Giselle Deveza, que leciona no CIEP 448 Ruy Frazão Soares, em Engenho do Mato, Niterói. “A fala dela me inspira e me faz reafirmar o meu desejo de criar oportunidades para que todas elas sigam as carreiras que desejarem, exercendo os papéis que escolheram para si com todo o potencial que possuem”.

O gerente de Educação Básica do British Council Luis Felipe Serrao reitera que a educação ocupa um lugar importante para o engajamento das meninas com a ciência. “Estudos e pesquisas mostram, por exemplo, que meninas recebem menos estímulos ao longo das suas trajetórias escolares para se engajarem em áreas científicas e tecnológicas, o que posteriormente vai se refletir no mercado de trabalho. É direito das meninas serem motivadas e incentivadas a seguirem para as áreas de STEM se isso for a decisão delas, e trazer o debate sobre gênero é mostrar que outras profissões também estão abertas aos meninos. Discutir gênero, então, é de suma importância para visibilizar desigualdades e pactuar soluções no sentido de promover equidade e justiça educacional”, reflete.

Escrito por: Davi Bonela, pesquisador da Diretoria de Desenvolvimento Científico do Museu do Amanhã.